Libélula

(Libélula. Significa um caminho para novos mundos. Falam sobre transformação e mudança de perspectiva, energia, potencial, maturidade, profundidade de caráter, poder e equilíbrio. As libélulas voam com graça e elegância.)

Eu não sei se é porque gente tende a procurar sinais por aí, na tentativa de dar sentido às coisas que acontecem conosco, e aos nossos pensamentos, ideias, dúvidas e reflexões; ou se realmente é o universo, tipo uma inteligência divina que está nos enviando alguma espécie de mensagem, deixando pistas para nosso crescimento como ser humano.

No meio dessas reflexões e de sinais que encontro por aí, eis que me surge a libélula.

Como assim “surge”?

Pois é, a realidade é que foi bem assim: espontâneo, incomum, inusitado, intrigante.

Um serzinho pequenino, que vive bem pouco, e muitas vezes nem percebemos a sua existência. Mas que, ao darmos atenção, conseguimos ver a grande e vasta beleza desses animaizinhos.

Aqui onde eu moro aparecem muitas libélulas, mas eu nunca tinha parado para reparar nelas de fato. “Olha só, uma libélula!” — isso nunca tinha saído da minha boca também. Definitivamente não era algo marcante pra mim.

Até que aconteceram uns episódios curiosos…

Eu não vou me lembrar ao certo a sequência dos fatos nem de todos os motivos por trás, mas definitivamente me lembro da sensação de surpresa e intriga que a aparição da libélula me causou. Apesar da aparente indiferença que eu possuía por esse animal, ela roubou minha atenção.

De uma vez, eu acordei bastante ansioso, não sabia ao certo o porquê. Resolvi treinar e peguei a chave para abrir a academia do condomínio. Quando vou colocar música para tocar, vejo uma libélula ao lado do som. Eu olhei ao redor, a academia completamente fechada, todas as janelas ainda trancadas e eu que tinha aberto a única porta. Pois bem, viajei nisso, mas continuei com a vida e passou. No mesmo dia mais tarde recebo uma notícia muito importante, eu tinha passado na prova pra entrar no curso de psicologia.

De outra, eu estava voltando arrasado após pegar minhas coisas na casa da ex, e no botão de acesso do condomínio, lá estava ela, a libélula. Paradinha, mas aparecendo de novo num canto impossível de não enxergá-la.

Noutra vez, aparecera na maçaneta do meu carro. Novamente, na porta do meu estúdio. Outra vez, ao lado da minha sandália.

E assim, sucederam-se vários desses momentos. E todos os dias das aparições eram dias incomuns e intensos que revelavam algo importante na minha vida, ou talvez eu fosse decidir fazer algo importante.

Como se já não fossem suficientes esses episódios para eu dar atenção à elas, os resquícios de dúvidas desapareceram numa das sessões do grupo de estudos em Psicologia Transpessoal que participava. E muitas outras perguntas surgiram a partir daí.

A orientadora do grupo realizou a dinâmica do animal de poder. Nesse campo que pensa o ser humano em conexão com todo o universo, observa-se que desenvolvemos laços mais fortes com alguns minerais, plantas e animais específicos, que são fontes de poder para nossa existência.

Quando eu penso que não, eis que na dinâmica a libélula surge novamente pra mim. É. Não tem mais o que discutir, preciso entender um pouco mais sobre as libélulas e sobre o que elas estão querendo me dizer.

E o que eu encontrei sobre elas foram convites:

As libélulas vêm como guias, como mensageiras do despertar.

Elas nos convidam à transformação, assim como suas próprias metamorfoses. Para além, elas nos convocam a enxergar a beleza que existe nas mudanças.

Também nos fazem olhar para dentro, elegendo momentos de introspecção e interiorização. Elas nos instigam a sermos mais atenciosos conosco. A conhecermos melhor nossas emoções. A prestar mais atenção (e a repensar) nossos próprios desejos.

Nos propõem questionar e refletir sobre a gente e sobre o mundo. Nos convidam a conectarmos conosco, com a natureza e com o cosmos.

As libélulas nos estimulam a olhar com mais sensibilidade e profundidade.

Nos desafiam a procurar diferenciar o que em nossas vidas é ilusão do que é verdadeiro e autêntico.

Provocam a gente para desenvolvermos e alcançarmos nossos verdadeiros potenciais de vida.

Elas nos convidam a aceitar que a vida é impermanente e que possuímos a força e as ferramentas necessárias para lidar com leveza, elegância e equilíbrio nessas transformações.

A maneira singular como as libélulas voam, cheias de agilidade, mas com leveza, elegância e fluidez, nos sugerem a agir sempre com tranquilidade, sobretudo em momentos difíceis, pois mesmo os ventos mais fortes não atrapalham suas viagens.

Elas não trazem de fato nenhuma sabedoria milenar, ou a chave para o sentido da vida e a resposta para todas as coisas, mas simbolizam reflexões essenciais na busca do nosso crescimento interior. São verdadeiros ensinamentos.

E tudo fez mais que sentido.

O momento das aparições acontecera no mesmo tempo de grandes mudanças em minha vida. De curso, de trabalho, de relacionamentos, de ideias, de jeito, de descobertas. De ser.

Num período tão fértil de transformações, eu realmente precisaria de guias que me fizessem olhar para a busca da verdade, da coerência e do crescimento interior. Afinal de contas, no meio de tanta informação e frenesi não é tão difícil a gente acabar se perdendo por aí.

As libélulas me ajudaram a engatar num movimento que eu já vinha buscando, contanto, sob um novo olhar, mais cuidadoso e afetuoso; com ainda mais profundidade e afinco.

Elas me proporcionaram preparar um terreno espiritual de acolhimento às mudanças e de busca atenciosa da minha própria verdade.

Essa virtude nos instiga a pensar sobre como podemos olhar e viver aquilo que nos acontece. Que mesmo que as águas estejam turbulentas, a gente encare buscando a leveza, a elegância, o equilíbrio e a verdade.

No final das contas, as libélulas querem nos dizer que a gente pode, e deve, buscar uma vida plena, verdadeira, profunda e leve. E que isso depende das nossas reflexões e ações.

Não que a gente vá conseguir de todo, e nem que vai ser fácil. Não mesmo na real né gente? Vamos ser sinceros, hehe.

Entretanto, as mensagens das libélulas podem se assemelhar com o que certa vez Eduardo Galeano disse sobre a utopia: ela serve para continuarmos caminhando.

Um sentido pro nosso caminhar, e sentidos diferentes para a caminhada de cada um. Além da responsabilidade do esforço pessoal que precisamos fazer para encontrarmos nosso próprio sentido.

E que nesta bela jornada tenhamos força, perseverança, paciência, fé, coragem e serenidade.

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